sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Made in Portugal



Apesar de ter adoptado um nome em inglês para a minha marca, por questões comerciais, sinto um grande orgulho em ser português e em tudo o que isso representa. Politicas à parte.
Procuro consumir produtos feitos por cà, por patriotismo e por realmente serem na maioria dos casos de muito boa qualidade. Desde o vestuário e calçado até à alimentação.
A pesca, na maioria dos casos, é uma excepção. O pouco que se fabrica em Portugal ou é desconhecido ou acompanhado de má reputação. As linhas de pesca são um exemplo disso. As grandes marcas internacionais compram linhas em Portugal, rebobinam e vendem o produto final como Made in Japan ou coisa que o valha. As melhores linhas europeias também são feitas cá.
Mas é de canas de pesca que vos quero falar.
Já todos vós ouviram falar ou até têm uma cana em conolon nacional. Aquelas amarelas, pesadissimas, muito macias mas com uma força que as torna virtualmente indestrutiveis. Ainda se fabricam. No Norte.
Nesta minha caminhada pelo mundo do  fabrico de canas, resolvi verificar se realmente todas as más referências que acompanham estes "blanks" nacionais eram reais. A melhor maneira de o fazer? Comecei por desmontar uma de 5m dividida em duas partes.
Verifiquei que só o encaixe metálico pesava 134 gr. Depois desmontei o porta carretos e adivinhem: 157 gr. Retirei um metro de mangueira que utilizavam para proteger o cabo, 200 gr, e cheguei ao cabo de alumínio. Para poupar, a uma vara de 4,5 m acrescentavam 50 cm de tubo.Mais 300 gr. Tudo somado, 791 gr só nestes componentes. Sem contabilizar os passadores e o próprio peso do "blank".
Rapidamente percebi que mesmo despido de todos os componentes, o "blank" continuava a ser pesado. É um facto. "Mas tem que haver maneira de os aproveitar e fazer canas com qualidade", foi o meu pensamento. Resolvi comprar algumas varas de 2,40m, 2,70m e 3,00m.
Recebidas as canas e verificado o mau aspecto que traziam, conversei com o meu amigo Quim, excelente pintor de automóveis. Tinta e verniz adequados com tratamento para raios UV e com a elasticidade necessária para não estalar em acção de pesca, comprados e aplicados. Rapidamente o caso mudou de figura. Um "blank" preto e brilhante surgiu, provocando alguma incredulidade em quem os via e confundia com carbono. A foto de abertura é a prova disso.
Começava assim esta nova etapa da minha vida profissional. Confesso que em raras ocasiões me senti tão entusiasmado como neste momento. Um manancial de ideias e possibilidades que surgem a um ritmo que me assusta por não ter tempo nem meios para as colocar em prática. Com calma, passo a passo lá chegarei.
Vou falar um pouco das primeiras que construi e mostrar-vos  pormenores de cada uma delas. Impossível fazer um destaque.
As primeiras tiveram por nome "Labrax" e "Estuário". A temática dos nomes é uma constante dor de cabeça. A seu tempo falaremos sobre isso.
A "Labrax" é uma cana de duas partes com 2,40m, com um "insert" em fibra de vidro maciça nos últimos 30cm e destinada ao Spinning. Enrolamentos em seda metalizada azul, cabo com a imagem de um Robalo, logo da 7even e respectiva informação técnica.

Pormenor do enrolamento da "Labrax"


A primeira Made in Portugal estava feita e devidamente experimentada e já com algumas capturas no curriculo. Orgulho.
O entusiasmo era muito e as noitadas foram muitas. Seguidas. Ainda são!
A "Estuário" não demorou a estar concluída.

O enrolamento da "Estuário" em prata, verde e vermelho


Por sugestão do meu bom amigo João Martins, foi construída com 2,40m, inteira com 3 ponteiras de 60cm.
A pesca embarcada foi o seu destino. E com assinalável sucesso. Julgo que o Júlio, outro amigo, foi o padrinho da sua estreia a bordo do Makaira.
A partir daqui já não parei. A "Fish Hell" foi a seguinte.

Gráfico da "Fish Hell" com o peixe tribal e as chamas em destaque



Metro e meio com duas ponteiras em fibra de vidro, "blank" vermelho e enrolamentos marmoreados a imitarem chamas. Os gráficos do cabo com o peixe tribal, mais chamas, o logo da 7even e a informação técnica. Na extremidade, tal como a "Labrax", uma bola envolta em chamas.

Enrolamento marmoreado em chamas



Pormenor do batente em forma de bola


A "Sirius" foi a cana que fechou este arranque. O mais perfeito dos meus trabalhos até então.
Enrolamentos em seda metalizada, preto mesclado com prata, gráficos simples com o nome "Sirius" em letra estilizada e a restante informação técnica. A bandeira portuguesa passou a fazer parte dos gráficos aplicados.

Enrolamento da "Sirius"


As canas de duas partes são unidas por encaixes feitos por mim.




Todas elas foram testadas aqui na oficina. Levantam 2,360kg com uma facilidade que impressiona. Provavelmente levantam muito mais. Mais um tema para falarmos e testarmos um destes dias.
Muitas já se seguiram a estas, mas queria deixar a história completa das primeiras (espero que sejam as primeiras de muitas), para que possam acompanhar e talvez também sentir o entusiasmo e carinho que coloco nas canas que construo.
Em breve, num blogue perto de si, mais uma cana portuguesa com certeza.
Até lá.

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