À medida que vou construindo novas canas, tenho que encontrar tempo para as reparações, para a minha constante procura de novos materiais para utilizar nesses trabalhos e identificar outras formas de melhorar o serviço que presto aos meus clientes. São alguns destes pequenos mas importantes passos que vos quero relatar hoje.
Comecemos pelas reparações.
Desde canas antigas e com grande valor sentimental até à cana comprada na Loja do Chinês, chega à minha oficina um pouco de tudo. Mesmo correndo o risco de ser mal interpretado, confesso que em muitos casos tento desencorajar os donos da ideia de as reparar. Ou a cana não a justifica ou, pura e simplesmente, o custo será demasiado elevado.
Mas também me chegam canas para fazer melhoramentos que me dão um particular gozo. Principalmente nas canas telescópicas. As montagens à italiana são as minhas favoritas.
Alguns exemplos:
A primeira foto é de uma cana da Sert que estava globalmente em mau estado. Depois de uma limpeza geral, substitui os passadores. Foi gratificante ouvir o cliente exclamar que estava melhor do que nova.
A segunda foto é de uma 7even First Edition, de um cliente, que sofreu um acidente. Aproveitei o facto e refiz os enrolamentos de todos os passadores. Esta digo eu que ficou melhor do que estava.
Há também algumas que têm dedicatória. Esta que vos mostro a seguir é um belo exemplo disso. Um mimo para uma esposa que ficou feliz com o resultado. Uma Sert que vinha em mau estado e a precisar de passadores novos. Aqui utilizei uma nova técnica que consiste na inserção de flores metálicas nos enrolamentos.
Depois, também recebo aquela cana “emprestada pelo amigo e que acidentalmente se partiu”. Foi o caso desta Sea Princess que me chegou com o cabo partido em dois. Missão difícil mas cumprida. No final, nem se percebia a zona onde isso tinha sucedido.
Estes são apenas alguns exemplos de reparações em que também aproveito para ir inovando o meu trabalho.
Foi em busca dessa inovação que resolvi criar um elemento que estava em falta nas Made in Portugal: um saco a condizer. Verde e com o meu logo em letras vermelhas. O tecido é de boa qualidade e o fecho é feito com velcro. Completamente feito à mão e em Portugal.
Será que se justifica? Digam-me lá, uma cana que supera o teste que lhes vou contar a seguir não merece mesmo um saco especial?
Eu andava com vontade de repetir com a cana de 3,00 m o teste que realizei com uma de 2,40 m e que tive a oportunidade de vos relatar numa entrada anterior. Aproveitei um final de tarde mais parado, montei uns passadores com adesivo, um porta carretos só encaixado e também sem colar o encaixe das secções da cana. Tudo muito provisório uma vez que estava convencido que a iria partir.
A primeira tentativa foi feita com 7,5 kg, peso idêntico ao máximo levantado pela de 2,40 m. Sem o mínimo problema.
A etapa seguinte foram os 10,380 kg!
É desta que parto a cana... Óculos postos para precaver a eventual projecção de pedaços da cana e força. Muita força. Mais do que julguei ser necessário. E levantar os 10,380 kg, só o consegui em cima de uma cadeira alta.
Meus caros amigos, esta é sem dúvida uma grande cana, com um poder realmente só ao alcance dos mais modernos carbonos, dos que custam o preço de um mês de férias na Costa Alentejana. Mas esta é feita aqui mesmo. Em Portugal.
Desta vez o fotógrafo de serviço foi o meu amigo Ernesto Lima que também ficou um pouco incrédulo com este feito.
Aproveito também este escrito, um pouco diferente do que tem sido habitual por aqui, para vos deixar um link a um fórum americano de construtores de canas.
http://www.rodbuildingforum.com/index.php?showforum=10
Nas páginas deste fórum, os tópicos que têm como autor “7even seas” respeitam a canas construídas por mim. Neles poderão ler o que pensam daquilo que faço por cá. Espreitem e depois, se quiserem, digam qualquer coisa.
Já vai longo o discurso mas havia uma série de pequenas coisas que queria trazer ao vosso conhecimento por achar que são importantes na vida das Made in Portugal.
A próxima está meio feita e a caminho do estrelato!
Não vão ter que esperar muito...