domingo, 30 de maio de 2010

Espinha – uma cana diferente!

 

espinhainicio

Como alguns já devem ter percebido, não sou capaz de encontrar uma forma de fazer bem as minhas canas e depois limitar-me a construir réplicas com algumas nuances de cores e materiais. No fundo, isso é o que fazem quase todas as fábricas e marcas, sendo que algumas nem se dão ao trabalho de desenvolver os seus produtos, limitando-se a copiar os sucessos dos outros. Uma cana personalizada deve ser o oposto.

Esta busca quase constante de novos materiais e formas de fazer ou de acrescentar algo de novo estética ou estruturalmente é dispendiosa, cansativa (muitos são os insucessos das novas experiências) mas ao mesmo tempo gratificante e motivadora. Quando aplico algo novo e resulta, todo o esforço e falhanços anteriores são esquecidos.

Estes melhoramentos e inovações podem ser simples enrolamentos executados de forma diferente ou a aplicação de novos materiais ou mesmo formas de concepção diferentes no que respeita à construção.

Nesta cana, “Espinha” de seu nome, utilizei tudo isto. Um novo tipo de enrolamento, novos materiais e uma nova concepção.

Para muitos dos que vão seguindo o meu trabalho, a reacção a algumas destas novidades será tipicamente portuguesa: “ Isso? Eu também faço. Não custa nada.”

É o melhor indício de que estou no bom caminho.

A “Espinha” é uma cana para pesca embarcada com 2,70 m, duas partes mais ponteira. O “blank” em conolon nacional e as ponteiras em fibra de vidro. Passadores Fuji e porta carretos em grafite.

Para o batente escolhi uma pequena peça em alumínio e um pequeno esqueleto de um peixe por baixo da manga retráctil.

espinhabatente

O cabo foi todo coberto com manga retráctil com diamantes em relevo para um maior conforto e para evitar que a cana escorregue quando estiver molhada.

espinhacabo

A escolha do porta carretos recaiu num modelo simples mas eficaz, em grafite, ladeado por enrolamentos em azul e preto, trabalhados em simultâneo na sua parte central.

espinhaportacarretos

No gráfico, o esqueleto de um peixe, o logo da 7even, a bandeira nacional e as especificações técnicas. Com um resultado final simples mas com uma nota de humor que me agradou bastante.

espinhagrafico

O encaixe foi feito com fibra de vidro e reforçado nas extremidades de ambos os elementos da cana com enrolamentos cobertos de epoxy.

O primeiro passador surge já no 2º elemento. Após algumas experiências, gostei mais do comportamento da cana com o passador colocado desta forma, tal como já o tinha feito na “Blue Flame”.

espinhaencaixe

Os passadores Fuji, pretos com a porcelana em Hardloy, combinam na perfeição com as cores escolhidas para os enrolamentos.

espinhapassador

Duas ponteiras em fibra de vidro completam a cana. De acções diferentes e com ligeiras alterações de posição dos passadores, também Fuji.

espinhaponteiras

O resultado final é uma cana de pesca embarcada com acção parabólica progressiva, com o poder que já conhecemos e com alguns pormenores diferentes e inovadores. Gosto particularmente dos enrolamentos e do pequeno esqueleto de peixe no cabo.

espinha

Mais inovações estão a caminho. A busca continua.

A chegada à Europa de algumas empresas americanas que fabricam “blanks” abrem outras perspectivas e permitem que em breve possa oferecer, para além das canas em conolon, canas para todas as vertentes do Spinning e Casting e mesmo canas de Fly.

As próximas não tardam a fazer a sua aparição por aqui.

sábado, 22 de maio de 2010

Uma simples homenagem

 

jorgebolito

Entrei em contacto com o Jorge através da internet. Descobriu o blogue, interessou-se pelo meu trabalho e cedo acordámos a feitura de uma Made in Portugal.

Combinar detalhes, decidir cores, gráficos, passadores e tudo o resto que faz parte da construção de uma cana, é uma tarefa que requer algum cuidado quando é feita à distância, via e-mail. O Jorge nem foi muito exigente: cana de Surfcasting, de 4,50 m, em carbono, com uma acção semi-parabólica (mais para o rijo), enrolamentos em preto com umas riscas em prata, porta carretos em alumínio e um contrapeso igualmente em alumínio. Nos gráficos apenas o seu nome, o logo da 7even no contrapeso e a bandeira nacional no porta carretos.

Apesar da minha insistência para acrescentar mais alguma coisa no gráfico, o Jorge nunca aceitou as minhas sugestões. Percebi o porquê no dia em que lha entreguei e o conheci pessoalmente.

Sem saber, acabei por construir uma cana muito especial para ele. Não só por ser a sua primeira cana personalizada mas também por ser uma singela homenagem a alguém que lhe era muito querido. Bonito e sentido gesto.

Resolvidos todos os detalhes relativos à construção, rapidamente se chegou ao resultado final que vos passo a descrever.

O blank escolhido, de origem asiática, construído a 100% em carbono, faz parte da série de “blanks” fabricados com as minhas especificações e que deram corpo à “First Edition” da 7even. Infelizmente estão a acabar. Talvez uma “Second Edition” resolva este vazio.

Para o batente e por opção do Jorge, coloquei um contrapeso em alumínio semi coberto com enrolamentos em preto e com o logo da 7even. O contrapeso foi sendo ajustado até encontrar o peso certo para cumprir com a sua função de equilibrar a cana correctamente. Esses ajustes consistem em ir perfurando e desbastando o interior da peça que é maciça quando me é fornecida.

jorgebolitobatente

No cabo e por sugestão minha, coloquei manga retráctil com um efeito em forma de diamante e em relevo para proteger o “blank” dos suportes e, ao mesmo tempo, para uma melhor aderência das mãos mesmo quando a cana possa estar molhada melhorando dessa forma a acção do lançamento.

jorgebolitocabo

Para o porta carretos a escolha recaiu num esqueleto em alumínio que permitiu personalizar a parte central do mesmo. Como gosto muito de fazer, confesso, não só pela estética mas também pela significativa redução de peso.

jorgebolitoportacarretos

Apesar do pedido que me foi feito para colocar a bandeira nacional no porta carretos, optei por posicioná-la na sua parte superior, em jeito de remate. Como o gráfico a aplicar seria bastante mais curto do que o habitual, esta solução equilibrou melhor a estética da cana ao reduzir a extensão de blank sem aplicações.

jorgebolitografico2

No gráfico apenas o nome do cliente e as informações técnicas da cana. Devido à ausência de um gráfico mais trabalhado, escolhi em conjunto com o Jorge uma fonte mais exuberante e que se revelou uma escolha muito acertada.

jorgebolitografico

jorgebolitografico1

Para os passadores a escolha recaiu na Fuji. Cromados, para completar a harmonização da cana com os alumínios e os enrolamentos em prata. A pedido do cliente, dois no segundo elemento e cinco na ponteira e que acabam por dar um pouco mais de rigidez.

jorgebolitopassadores

No enrolamento da ponteira, de rebordão, fiz três pequenos enrolamentos de cor por cima do enrolamento prateado. Não só ajuda à visualização dos toques como reflecte a luz do próprio starlight.

jorgebolitoponteira

E assim fica apresentada mais uma das minhas queridas meninas.

Mais simples do que o habitual, sem muitos floreados mas igualmente bonita. E ao ver a reacção do Jorge quando a encarou pela primeira vez, tive a confirmação de que o objectivo estava alcançado.

A próxima também é muito especial mas por razões diferentes. Novo tipo de enrolamento e algumas pequenas novidades na construção. Está muito próxima da conclusão.

domingo, 16 de maio de 2010

Bem portuguesa

 

blueflame

Todos nós já tivemos oportunidade de observar alguns lindíssimos painéis de azulejos, antigos ou mais contemporâneos. Fazem parte da nossa cultura e mesmo da nossa história.

Os tons de azul e o branco são as cores dominantes nesta expressão cultural tão tipicamente portuguesa. Motivo mais que suficiente para servir de inspiração para outra Made in Portugal. A mais portuguesa de todas.

Para juntar aos azulejos nada mais português que a cortiça. Uma estreia nas canas que vos tenho apresentado.

Mas cortiça com qualidade. Nada que se pareça com as chinesices com que somos presenteados e que provocam uma fobia contra os cabos de cortiça. Garanto que não tem nada a ver um cabo feito com boa cortiça portuguesa, bem torneado e lixado até apresentar um toque sedoso. Um verdadeiro luxo que a maioria dos pescadores nacionais ignoram ou desprezam.

Azulejos em tons de azul, cortiça e um “blank” nacional só podiam resultar na mais portuguesa das canas que fiz até hoje, apesar do nome em inglês pelo qual me penitencio. Mas tenho que pensar um pouco naquilo que faz mover o mundo e paga as contas. Avancemos.

A cana que vos vou apresentar é mais uma para pesca embarcada, desta vez com 2,70m divididos em duas partes mais as respectivas ponteiras.

No batente decidi colocar uma peça de alumínio com uma pequena medalha no interior que me fez lembrar os rendilhados feitos em pedra de algumas janelas de monumentos portugueses.

blueflamebatente

blueflamebatente1

A meio do cabo e para acabar com a monotonia dos cabos em cortiça todos direitinhos de uma ponta à outra, resolvi tornear a cortiça de forma a que morresse com uma linha suave numa pequena peça de alumínio onde inseri o logo da 7even.

blueflamepecameiocabo

Como já referi, optei por fazer linhas suaves em todo o cabo. Do batente a morrer até à peça do meio e em crescendo do meio até ao porta carretos. Pessoalmente, gostei muito do resultado final.

blueflamecabo

Para porta carretos o material escolhido foi o alumínio. Este modelo com janelas acabou por ser a escolha mais acertada e permite observar o efeito marmóreo com os já falados tons de azul e branco tradicionais na arte da Azulejaria Portuguesa.

blueflameportacarretos

Para rematar o cabo mais um pouco de cortiça com formas um pouco mais exuberantes e com uma cúpula em alumínio com algumas influências árabes que também existem na nossa arquitectura. O efeito marmóreo termina o cabo rematado por dois pequenos enrolamentos em linha metalizada azul e prata que irão acompanhar o resto da cana.

blueflamefinaldocabo

Nesta última peça de alumínio, fiz um pequeno furo para introduzir um pequeno destorcedor que servirá para prender o anzol.

blueflamehookkepper

No gráfico o nome “Blue Flame”, a bandeira portuguesa, o meu logo e as especificações técnicas.

blueflamegraphic

O encaixe foi feito em carbono e reforçado com os enrolamentos e a respectiva cobertura de epoxy.

 

blueflameferrule

Os passadores são outra novidade. De linhas muito elegantes embora um pouco mais frágeis, não resisti a utilizar estes levíssimos e elegantes passadores da norte americana Pacific Bay.

blueflameguide

Para terminar as habituais ponteiras. Duas em carbono com acções semelhantes.

blueflameponteiras

Um resultado final diferente com a introdução de algumas novidades. A mais portuguesa de todas e que espero que ajude a valorizar a imagem da cortiça nos cabos das canas.

As seguintes já estão feitas e até entregues aos respectivos donos. Um serão a meio da semana será suficiente para os manter a par das últimas Made in Portugal. Até breve.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Adamastor

 

adamastor

Esta foi para um bom rapaz!

De bom nome e fácil trato, Nuno Correia. Que me disse as palavras mágicas: “Faz como quiseres”. Uma chatice… Apenas escolheu a cor, um tipo de vermelho que se veio a descobrir ser um vermelho Citroen.

Não sei se pela cor ou pela mistura desta com os alumínios, a cana fez-me lembrar de alguma forma os tempos gloriosos dos descobrimentos portugueses e as mil e uma aventuras por nós vividas. Resolvi dar uma volta pelos Lusíadas e saiu-me ao caminho este simpático senhor. O Adamastor.

Como todos sabem, era o gigante que representa as forças da natureza que infligiam terríveis castigos às caravelas portuguesas que tentavam dobrar o Cabo da Boa Esperança e chegar ao Oceano Índico, seu domínio.

Figura simpática para colocar no gráfico.

Para compor, coloquei uma caravela na mão do gigante e desenhei uma rosa dos ventos que acrescentei à composição.

Posto isto, resta-me dizer que, de todos os clientes que tive até hoje, o Nuno foi o mais ansioso por ver a cana pronta. Um miúdo na véspera de Natal.

Não posso negar que esse facto por um lado me deixou muito satisfeito, por ter um nível de construção que já provoca este tipo de reacções, e por outro aumentou e de que maneira a minha responsabilidade. Ao que parece, estive à altura do acontecimento. Enquanto escrevo, o Nuno já está a preparar-se para ir estrear a sua menina em Peniche.

Para além da cor, de que já vos falei, usei um “blank” nacional com 3,00m repartidos por duas partes mais ponteira.

Para batente escolhi uma peça em alumínio exclusiva da 7even com alguns pormenores nos tons da cana.

adamastorbatente

No cabo, um porta carretos em alumínio, personalizado, ladeado por duas peças do mesmo material.

adamastorgrip

adamastorportacarretos

No gráfico, o já falado Adamastor acompanhado pela bandeira nacional, o meu logo e as informações técnicas da cana.

adamastorgrafico

adamastorgrafico1

adamastorgrafico3

Para os passadores escolhi os novos Ring Lock da American Tackle. No primeiro, optei por fazer um enrolamento de base em bordeaux igual aos do resto do cabo e com uma linha prateada por cima, em espiral.

Esta linha prateada foi descoberta numa pequena retrosaria e tem a particularidade de não ser redonda e ser cheia de irregularidades. O enrolamento é muito mais difícil de fazer mas fica com um ar antigo e alguma textura. Infelizmente já a acabei e já não se fabrica.

adamastorpassador

O encaixe de espigão foi feito em carbono, o que confere mais solidez à cana e permite que em termos de sensibilidade se torne mais eficaz.

adamastorencaixe

Nos passadores seguintes optei pela linha habitual metalizada com três pequenas riscas em bordeaux para não adornar em demasia a cana.

adamastorpassadorpequeno 

Para terminar, as três habituais ponteiras, duas em carbono e uma em fibra, todas com passadores Fuji.

adamastorponteiras

Está assim apresentada mais uma Made in Portugal.

O calor chegou e a vontade de pescar também. Para mim implica mais trabalho, canas novas ou as velhas que precisam de reparações. Abençoado Sol.

A próxima não demora mesmo nada.

Aliás, já está pronta.